segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Estratégia


PRIMEIRA PARTE - Sun Tzu





SEGUNDA PARTE - Carl Von Clausewitz


6.4. Superioridade relativa, surpresa e astúcia

Para Clausewitz a concentração de forças é o mais importante dos princípios da estratégia militar.

"... basta recordar a nossa definição da guerra para ficarmos convencidos disto: 1) A destruição das forças armadas do inimigo é o princípio supremo da guerra..., 2) Esta destruição das forças armadas efectua-se principalmente através do recontro, 3) Só grandes recontros gerais produzem grandes resultados, 4) É a fusão dos recontros numa única grande batalha que dá os maiores resultados. (...) Destas verdades deriva uma dupla lei cujas partes se sustentam reciprocamente." (Da Guerra, Liv.IV, Cap.XI, p.307)

Trata-se (...) da visão napoleónica da batalha decisiva.


GUERRA

A guerra é pois um acto de violência destinada a forçar o adversário a submeter-se à nossa vontade.
Da Guerra, Liv.I, Cap.I, p.73

Como fenómeno total as suas tendências dominantes fazem semper da guerra uma trindade paradoxal - composta pela violência primordial, que se traduz no ódio e na hostelidade e que deve ser encarada como um cego impulso natural; pelo jogo do acaso e da probabilidade através do qual o espírito criativo tem liberdade para deambular; e pelo seu elemento de subordinação, como instrumento da polítiva, que faz dela tão-somente um objecto da razão.
On War, Liv.I, Cap.I, p.89


A batalha principal (...) Serve mais para matar a coragem do inimigo.
O emprego de forças muito numerosas num único momento pode mesmo revelar-se contraproducente, porque esgota numa única "jogada" o potencial disponivel.

No domínio da estratégia do fraco ao forte -, teremos que tentar obter superioridade relativa através da concentração de forças em pontos decisivos.

"O centro de gravidade está sempre situad onde a maior massa de matéria está concentrada, e o golpe desferido no centro de gravidade dum corpo é o mais eficaz (...). (...) e tais centros de gravidade encontram-se onde estão reunidos os corpos de tropas mais importantes." (Da Guerra, Liv.VI, Cap.XXVII, p.586). o que na realidade interessa é identificar o factor, que, uma vez neutralizado, conduz ao desmoramento ou à paralisia do sistema de forças adverso.

Concentração de forças e rapidez: (...) o princípio da concentração de forças necessita da surpresa como condição de eficácia. (para evitar uma resposta simétrica por parte do adversário.) por causa do seu efeito psicológico deve também ser considerado como um princípio independente. (...) A surpresa tem o singular efeito de libertar ao extremo os laços de unidade..."
A surpresa "... semeia a confusão e quebra a coragem do inimigo..." (...) mas na prática os seus efeitos são com demasiada frequência anulados pela fricção de toda a "maquinaria" envolvida no confronto. (perdeu nos nossos dias muito da sua eficácia)

planos elaborados e concretizados apenas para ludibriar o inimigo, falsos relatórios destinados a confundi-lo, entre outras -, são muito pouco eficazes porque exigem um dispêndio de tempo e de recursos que pode comprometer o êxito das acções que efectivamente se pretende empreender (Cf. On War, LivIII, Cap.X,pp.233-234)

A coacção diplomática pode ser usada com proveito, mas não pertence ao domínio da execução do plano estratégico. A estratégia, afirma Clausewitz, "...engloba os fins que conduzem directamente à paz." (Da Guerra, Liv.II, Cap.II, p.162)

Não basta derrotar o inimigo pela força das armas. É necessário dar seguimento, com máxima energia, ao sucesso táctivo que se tenha obtido através do combate.

A vitória militar, por si só, não correspode ao sucesso estratégico. O verdadeiro objectivo do estratego é procurar obter uma situação estratégica tão vantajosa que se ela própria não conduzir a uma decisão com os menores custos.

Adquirir uma superioridade, a fim de apresentar finalmente o combate e em condições tais que o inimigo se encontre na impossibilidade de o aceitar (...) não é mais do que garantir uma decisão favoável caso o inimigo opte pelo combate.

"A arte da guerra consiste, com um exército inferior, em ter sempre mais forças do que o inimigo no ponto em que se ataca..." - Napoleão


6.5. A permanente cumplicidade entre forças físicas e forças morais

Forças profundamente desiquilibradas poderão entrar em confronte, com resultado incerto, se se verificar a seguinte condição: "A desigualdade de foras físicas não deverá ultrapassar o nível em que possa ser contrabalançada pelas forças morais." (Da Guerra, Liv.I, Cap.II, p.92)

2 comentários:

  1. Na esmagadora maioria das guerras, o plano económico deu origem à guerra. Mesmo nas guerras primitivas, o motivo das mesmas era sempre económico. Outros motivos de guerra poderão existir, mas esse não parece ser o tema do post, e das citações dos mesmos.
    Nas guerras convencionais, sempre o motivo económico está presente na origem do conflito. Até à época anterior à era contemporânea, o motivo económico era explícito. Por vezes, nas guerras antigas, até ao século 19, os despojos de guerra eram o objectivo, tão explícito quanto o próprio acto de guerra. A obtenção desse despojo era, por vezes, através de matança, eliminação do inimigo!
    A conquista de territórios também, em sentido lato, pode ser considerado um motivo económico, pelo poder primário que a terra tem. Na era contemporânea, o motivo económico está presente. A guerra actual já não tem um motivo tão explícito, mas ele está implícito nas acções que a guerra convencional considerava preparatório e estratégico. Algumas estratégias descritas no post não são mais adequadas à guerra moderna. O confronto hoje, só aparentemente é preparatório e de estratégia real. Este confronto de bastidores (e não falo só nas operações executoras das agências secretas), utiliza a guerra real como um cartão de visita: quer dizer, esta guerra real não é mais uma verdadeira guerra, no sentido que os autores citados no post referem. Na verdade, as guerras actuais, principalmente as levadas a cabo por superpotências, não são guerras. Não passam de grandes espectáculos de fogo de artifício. Até os seus generais são amorfos mandatários cativos desse poder económico. Nem o inimigo é real, e arrisco até a dizer, verdadeiro! É uma "guerra" de autêntica propaganda, na acepção pura da propaganda nazi. Estas guerras modernas são tão nazi's como a deles mesmos contra os não arianos. Poderíamos até considerar, por este motivo, só aparentemente, que a 2.ª guerra mundial não era de cariz económico. Mas isso era só aparente. A propaganda nazi encarregou-se de nos fazer crer que não era uma guerra económica. Os aliados tambám ajudaram a espalhar essa ideia, mas, ao cometerem erros (!?) fundamentais, tácticos e estratégicos, nessa guerra logo no "Dia D", tornaram-na na maior guerra económica da história. A meu ver, o plano económico global da guerra ainda não está terminado, nem foi aí que começou.
    Mesmo as pequenas guerras de poder tribal em vários locais espalhados pelo globo, são pequenos focos de conflito "preparado" pela integração (achava aqui divertido chamar globalização) num grande plano económico.
    O cenário torna-se algo difuso quando a própria guerra se tornou numa economia de grande escala. É a guerra pela guerra. Autosustenta-se no plano económico que lhe deu origem! Qualquer dia não me admirava nada que as forças armadas fossem cotadas em bolsa!
    Esta guerra moderna é ainda mais selvagem que a guerra primitiva. E esses primitivos, sim, eram agressivos.
    Hoje, as guerras mais parecem uma brincadeira de obesos idiotas!
    Mesmo a guerra do Vietnam era económica. Diz-se, a meu ver erradamente, que os agressores perderam essa guerra. É ridículo pensar assim. As guerras modernas têm objectivos claros. O objectivo dessa guerra era "Mac'carthyano", e esse objectivo foi conseguido. Se pensarmos que as ideias de Mac'carthy eram (não forço nada) de tendência económica, compreendemos o porquê da minha afirmação. A guerra do Vietnam também era uma guerra económica.
    Quando digo que a guerra moderna é económica, digo também que a guerra já não tem uma estratégia no sentido de estratégia pura da guerra. A estratégia é económica.
    As forças armadas são peões da estratégia económica.

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  2. A paz mundial continua a estar longe de ser alcançada, as forças militares proliferam, impossibilitando à paz. Sob o pretexto da defesa dos direitos humanos, de combater pela democracia ou de combater o terrorismo, os Estados, em todo o mundo, continuam-se a executar incríveis atrocidades contra os seus povos e o meio ambiente.
    Dentro das próprias fronteiras os exércitos desviam recursos orçamentários com fins sociais (saúde, educação, transporte, etc.) para pagar os que têm como tarefa matar, e para comprar armamentos, enriquecendo os fabricantes e mercadores de armas. Os enormes lucros criados pela manutenção e desenvolvimento das forças armadas são parte integrante do sistema de desenvolvimento capitalista, do imperialismo e da repressão social. Estes exércitos criam uma cultura de virilidade, violência, nacionalismo e sacrifício inútil de vidas. O pretexto do terrorismo é usado para justificar a repressão e o controle sobre os movimentos sociais.
    Fora das suas fronteiras os exércitos encarniçam-se mais sobre as populações civis do que na batalha. Esta presença militar em todo o mundo é a manifestação concreta da nova “desordem” mundial. Ela prepara o terreno para os Estados e as multinacionais se apropriarem dos recursos do planeta, tais como petróleo, o gás e a água. Os lucros com a guerra são o objectivo da especulação encoberta e sinistra dos Estados mercadores de armas, que também são os países mais poderosos do mundo. Os militares intervêm para partilhar os recursos mundiais em benefício dos poderosos e das suas economias nacionais.

    Um abraço,
    Lumena

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