quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O Cisne Negro



Capítulo 1


A HISTÓRIA E O TRIO DA OPACIDADE

(...) como funcionam os mecanismos. (...) é diferente dos acontecimentos em si, não é possivel ler a mente dos deuses apenas pelo testemunho dos seus actos.

A mente humana padece de três enfermidades ao tomar contacto com a história. São eles:

a. a ilusão da compreensão ou como todos pensam que sabem o que se passa num mundo que cada vez é mais complexo (ou aleatório) do que aquilo que julgam;
b. a distroção retrospectiva ou como apenas podemos avaliar questões depois de o facto ocorrer, como observássemos através de um espelho retrovisor (a História parece mais clara e mais organizada nos livros de História do que na realidade empírica); e
c. a sobreavaliação da informação factual e a falha das pessoas cultas e que constituem referências no plano intelectual, em particular quando criam categorias - quando "platonificam".

(...) Reproduziam continuamente factos erróneos na sua mente, gerando cenários alternativos que poderiam ter ocorrido e evitado estas rupturas histórias. Era como se a ruptura histórica se devesse a uma causa específica e a catástrofe pudesse ter sido evitada através da anulação dessa causa específica.

(...) as nossas mentes são extraordinárias máquinas de formulação de explicações, capazes de atribuir sentido a quase tudo, capazes de construir justificações para todo o tipo de fenómenos e, de uma forma geral, incapazes de aceitar o conceito de imprevisibilidade. (...) quanto mais intelegente for a pessoa, melhor soa a explicação. O que é mais preocupante é que todas estas convicções e análises pareciam ser coerentes de um ponto de vista lógico, e sem incongruências.

(...) Os acontecimentos apresentam-se perante nós de uma forma distorcida. Pense na natureza da informação: dos milhões, talvez mesmo triliões de pequenos factos que prevalecem antes de um acontecimento ocorrer, apenas alguns serão, mais tarde, relevantes para que consiga compreender o que aconteceu. Como a sua memória é limitada e filtrada, terá tendência para se lembrar da informação que se adequa aos factos.
(...) um diário permite aceder a factos indeléveis de uma forma mais ou menos imediata, possibilitando uma precepção não corrigida e permitindo-nos posteriormente estudar os acontecimentos no seu contexto próprio.


AGRUPAMENTOS

(...) o facto de um acontecimento aleatório levar a que um grupo que inicialmente defende a questão se alie a outro grupo que defende outra questão, o que faz com que ambas se fundam e unifiquem... até à surpresa da separação.
Qualquer redução do mundo que nos rodeia pode ter consequências explosivas, já que elimina algumas fontes de incerteza; conduz-nos a uma precepção errónea do tecido do mundo.


Capítulo 3


O MELHOR (PIOR) CONSELHO

A realidade empírica não é "ponderada" e a sua própria versão de "razoabilidade" não corresponde à definição convencional. Ser genuinamente empírico é reflectir a realidade o mais fielmente possível; ser honrado implica não recear o aspecto e consequências de ser diferente.


CUIDADO COM O ESCALÁVEL

Uma profissão escalável apenas é vantajosa se se tiver êxito; são mais competitivas, produzem desigualdades monstruosas e são, de longe, muito mais aleatórias, com enormes disparidades entre os esforços e as recompensas.

(...) De Vany demonstrou que muito do que classificamos como competências, são uma atribuição feita a posteriori. O filme faz o actor, e uma larga dose de sorte não linear faz o filme.
O êxito dos filmes depende fortemente do efeito de contágio. (...) parece afectar um vasto leque de produtos culturais. (...) as pessoas não se apixonam pelas obras de arte apenas por gostarem ou não delas, mas para sentirem que pertencem a uma comunidade. Pela imitação aproximamo-nos dos outros.


ESCALABILIDADE E GLOBALIZAÇÃO

(...) a globalização possibilitou aos Estados Unidos especializar-se no aspecto criativo das coisas, na produção de conceitos e ideias, ou seja, na parte escalável dos produtos e, crescentemente, ao exportar empregos, separar os componentes menos escaláveis e atribui-los a quem não se importa de ser pago á hora. Há mais dinheiro envolvido na concepção de um sapato que na sua produção.


VIAGENS PELO INTERIOR DO MEDIOCRISTÃO

Quando a amostra é grande, nenhum dado individual alterará significativamente o agregado ou o total.

(...) as quantidades sociais são informativas, não físicas; não é possível tocar-lhes. O dinheiro de uma conta bancária é algo importante, mas não é certamente físico. Como tal, pode assumir qualquer valor sem necessidade de gasto de energia. É só um número!

(...) deve sempre desconfiar do conhecimento que obtém a partir dos dados.

Mediocristão é onde temos de suportar a tirania do colectivo, a rotina, o óbvio e o previsto; Extremistão é onde nos encontramos sujeitos à tirania do singular, do acidental, do que não é visto e do que não é previsto.

Alguns acontecimentos podem ser raros e consequenciais, embora algo previsíveis, designadamente para quem está preparado para a sua ocorrência e dispõe de ferramentas para os compreender. (...) [cisnes "cinzentos"] (...) abarca a aleatoriedade que produz fenómenos vulgarmente conhecidos por termos como escalável, invariância de escala, leis de pôtencia, leis Pareto-Zipf, lei de Yule, processos estáveis de Pareto e leis de Lévy-estáveis e fractais. (...) que têm tanto em comum com as leis da natureza.




Capítulo 5

(...) Esta incapacidade de transferir automaticamente o conhecimento e sofistificação de uma experiência para outra, ou da teoria para a prática, é um atributo deveras inquietante da natureza humana.
Chamemos-lhe dependência situacional das nossas reacções. (...) dependem do contexto no qual o assunto está a ser apresentado.
As pessoas podem conseguir resolver um problema sem esforço numa situação social, mas sentir grandes dificuldades quando confrontadas com um problema abstracto de lógica. Temos tendência para usar mecanismos mentais diferentes - os chamados módulos - em situações diferentes.

(...) temos a tendência natural para procurar dados que confirmem a nossa história e a nossa visão do mundo - estes são sempre fáceis de encontrar. Pega-se nos elementos relativos ao passado que corroboram as teorias e chama-se-lhes evidências.

(...) Talvez seja isto a verdadeira autoconfiança: a capacidade de olhar para o mundo sem a necessidade de encontrar sinais que nos massagem o ego.

[paradoxo do corvo de Hempel]


Capítulo 6


CAUSAS PARA A MINHA REJEIÇÃO DAS CAUSAS

A falácia narrativa tem que ver com a nossa capacidade limitada de olhar para sequência de factos sem tecer uma explicação para os mesmos ou, de modo equivalente, forçando uma ligação lógica, uma seta de relacionamento entre eles. As explicações unem os factos entre si. Facilitam a sua memorização; contribuem para que faça mais sentido. Esta propensão pode correr mal quando aumenta a nossa impressão de que compreendemos.


DIVIDIR CÉREBROS

MAIS VALE UM
UM PÁSSARO NA MÃO
DO QUE DOIS A VOAR

O neurocientista Alan Snyder (...) fez a seguinte descoberta: se inibirmos o hemisfério esquerdo de uma pessoa dextra (mais tecnicamente, enviando pulsações magnéticas de baixa frequência para os lobos fronto-temporais), baixamos a sua margem de erro ao ler o texto acima referido. A nossa propensão para impor significado e conceitos bloqueia a nossa noção dos pormenores que formam o conceito. Contudo, se inibirmos o hemisfério esquerdo de uma pessoa, esta torna-se mais realista - desenha melhor e com maior verosimilhança. As suas mentes tornam-se mais capazes de ver os objectivos em si, livres de teorias , narrativas e preconceitos.

Segundo parece, a percepção de padrões aumenta com a concentração, no cérebro, do químico dopamina. (...) funciona como sistema interno de recompensas. A pessoa torna-se vulnerável a toda a espécie de enredos...

(...) existem dois tipos de acontecimentos raros: a) os Cisnes Negros narrados, aqueles que se encontram presentes no nosso discurso actual e sobre os quais é provável que ouçamos falar na televisão, e b) aqueles sobre os quais ninguém fala, porque fogem aos parâmetros tradicionais.

Kahneman e Tverski demonstraram que as pessoas reagem exageradamente a resultados de baixa probabilidade quando se discute o assunto com elas. (...) Contudo, Slovic e os seus colegas descobriram, em padrões de comportamento na aquisição de seguros, que as pessoas ignoram estes acontecimentos improváveis nas suas decisões. Chamam-lhe "preferência por seguros contra pequenas perdas prováveis" - à custa das perdas muito menos prováveis, mas de maior importo.



Como Estaline terá dito: "Uma morte é uma tragédia; um milhão é estatística." A estatística permanece em silêncio...

(...) a nossa consciência pode estar ligada à nossa capacidade de construir uma história qualquer sobre nós próprios. A questão é que a narrativa pode ser fatal se usada nos locais errados.


OS ATALHOS

(...) psicólogos empíricos usam a curva em forma de sino para medir os erros nos seus métodos de avaliação, mas esta é uma das raras aplicações adequadas da curva em forma de sino nas ciências sociais, devido à natureza das experiências.

4 comentários:

  1. Um excelente livro para qualquer pessoa independentemente da sua area.

    ResponderEliminar
  2. Este livro, que não podia ser mais actual, agora que estamos a sofrer as consequências de acontecimentos inesperados.
    Certamente uma boa leitura, para navegarmos não sòmente na certeza das coisas, mas também, na incerteza, que faz parte das nossas vidas.

    Abraços,
    Lumena

    ResponderEliminar
  3. Tive oportunidade de ler algumas passagens do livro "O Cisne Negro", e pergunto:
    Porque razão os homens nunca tiveram consciência do fenómeno dos cisnes negros, antes da sua ocorrência?
    Será que somos incapazes de avaliar verdadeiramente as oportunidades, e não sermos suficientemente abertos para conseguirmos ter imaginação para o impossível?

    Ficam aqui estas duas questões, que penso serem muito importantes.

    Abraços,
    Lumena

    ResponderEliminar
  4. Porque parecem improvaveis, porque envolvem mudança, e porque, como sabemos, o ser humano não é tão avido por mudança, como se supõe!

    ResponderEliminar